segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O salão sem beleza

Por Vivianne e Rafael
Era tarde de terça-feira. O dia quente prometia apenas ser mais um dentre todos os outros do mês. Ela lavava os cabelos de uma cliente calmamente. Todos os dias no salão eram assim. Seu trabalho, junto com mais sete colegas, era deixar as mulheres da cidade mais bonitas. Cabelos, unhas e maquiagem. A clientela já é conhecida. Freqüentam o salão, localizado a 100 metros da principal delegacia da cidade, há muito tempo. Às vezes entra um ou outro cliente novo, mas, basicamente, são os mesmos rostos aparecem por ali.
A tarde da terça-feira não seria mais uma como as outras. Uma rajada de vento denuncia que a porta fora aberta. Um homem entra no salão calmamente. Fala baixo e não é compreendido por uma das funcionárias, que logo identifica uma arma na mão do sujeito. Ele manda que ela feche e tranque a porta. Também manda todas as funcionárias e clientes subirem para o segundo andar. Esperta, ela apenas fecha a porta e não a tranca. A esperança é que alguém possa socorrê-las. Nesse momento começam os minutos de sofrimento que mais pareceram horas.

O homem manda que duas das mulheres tirem suas roupas. Assustadas e sem reação, elas obedecem. O maníaco, então, retira do bolso uma pomada anestésica e um aparelho celular, com o qual filma tudo. Cada detalhe é capturado pela lente. A barbárie não tem fim. Ele se toca enquanto as mulheres, desesperadas, nuas, indefesas, são observadas pelos olhos do terror. Olhos de desejo. Desejo incontrolável.

Enquanto isso, na rua, mais uma das conhecidas clientes chega para se cuidar. Entra no estabelecimento sem imaginar o que se passa no segundo andar. Estranha o fato de não haver ninguém ali embaixo.

Na parte superior do salão o desejo do psicopata é incontrolável. Ele tenta agarrar uma das moças que, corajosamente, reage. Empurra o maníaco que se assusta com a reação da moça. Ele não esperava por isso. A cliente, lá embaixo, grita pelo nome de alguma conhecida. O susto se torna ainda maior. Com a arma na cabeça, a funcionária chamada é obrigada a responder que está tudo bem. A mulher apanha a bolsa que havia esquecido e vai embora. Desesperado, o homem tem tempo apenas de fechar suas calças, apanhar alguns objetos pessoais das funcionárias e fugir. A pé. A 100 metros da principal delegacia da cidade.

A polícia é imediatamente acionada. A 100 metros de uma delegacia, com um suspeito fugindo a pé, seria fácil pegá-lo. Não foi. A viatura demora cerca de 25 minutos para chegar ao local onde tudo aconteceu. Muito eficiente no atendimento às mulheres, a polícia busca o sujeito nas proximidades do salão. Ele não é encontrado. A cidade cresce. A população aumenta. A violência acompanha. Segundo dados da Polícia Militar, até o dia 1º de novembro de 2007, 137 homicídios foram cometidos na cidade. No mesmo período de 2008, esse número subiu para 169.

O caso tomou as páginas de todos os jornais da cidade e não demorou muito para que outras vítimas fossem à delegacia para também denunciar o homem. Através de retrato falado chegou-se a Eduardo Gonçalves Barcelos, 41 anos. Procurado pela Justiça desde o ano de 2006, o “Lingüinha do Faustão”, como é conhecido, foi preso pela Polícia Civil. Ele ficou famoso no Brasil ao participar do concurso “Se vira nos Trinta”, exibido em um programa dominical. Mas em Campos, era procurado não pela fama de rodar uma garrafa na língua, mas por praticar roubos, atentado violento ao pudor e até estupro.


Linguinha do Faustão detido após denúncias